A Linha

Devo, sobre as ruínas que aí vêm,
construir os poemas
e exercer a alegria de viver,
mesmo com o barulho
que se avoluma além, naquela linha
que separa o horizonte imediato
do dia de hoje, campo raso
onde os corpos procuram esconder-se
para se amarem
e a ternura se torna urgente,
porque o tropel de escombros
cresce ao entardecer e ameaça
o repouso da noite e o índigo da manhã.
O tempo escasso apressa o desejo
e qualquer lugar serve para o amor.
Raramente sorrimos,
mas um afago brilha contra
os ruídos do asfalto e do betão
a quebrarem-se, cada vez mais próximos.



Nuno Dempster
daqui

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