O meu coração nasceu nu,
logo em fraldas embalado.
Só mais tarde usou
poemas em vez de roupas.
Tal como a camisa que punha
levava sobre o corpo
a poesia que lera.
Vivi meio século assim
até que, sem uma palavra, nos encontrámos.
A minha camisa nas costas da cadeira
diz-me que hoje percebi
quantos anos
a decorar poemas
esperei por ti.
John Berger
E os nossos rostos, meu amor, fugazes como fotografias
Quasi Edições, 2008
Tradução de Helder Moura Pereira
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