A esta hora, levantas-te de repente
Como se houvesse um sobressalto dos continentes.
A esta hora esqueces-te inteiramente
De que tens cócegas e eu começo a achar
Que os agelastas têm razão.
A esta hora, já perdemos a esperança
De ouvir as pedras ganir
E é tarde de mais para sermos de uma cordura triste.
O ar é seco e arranha como pergaminho,
O pensamento crepita de binómios,
O chá ruge e fere.
Todas as impossibilidades acorrem a esta hora
E a menor não é o teu perfume através de seda.
A esta hora, não entendemos nenhuma linguagem,
Abdicamos de qualquer mesura,
A esta hora, sabemos quão perigosa
É essa chuva incandescente que acende as cidades,
Perigosa porque se aproxima,
Perigosa porque poderíamos reconhecer,
Misturado, o próprio destino dos sonhos.
A esta hora, nunca nos conhecemos
E os nossos caminhos distorcem-se a tal ponto
Que, por este andar, não nos encontraremos nunca
E as probabilidades de não nos termos encontrado
São um fio, encerram-me numa confusão,
Num erro de memória desmantelada.
As seis horas inventam a tua ausência,
A escolha de campos, quadrantes,
A confusão entre quem parte e quem fica,
Entre o que foi e o que será.
Nuno Rocha Morais
Últimos Poemas
Quasi Edições, 2009
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