Duas formas de insónia

O que é a insónia?
A pergunta é retórica; sei demasiado bem a resposta.
É temer e contar na alta noite as duras badaladas fatais, é experimentar com magia inútil uma respiração regular; é o peso de um corpo que bruscamente muda de lado, é estreitar as pálpebras, é um estado parecido com a febre e que decerto não é a vigília, é recitar fragmentos de parágrafos lidos há muitos anos, é saber-se culpado de velar enquanto os outros dormem, é querer fundir-se no sono, é o horror de ser e de continuar a ser, é a alba duvidosa.
O que é a longevidade?
É o horror de existir num corpo humano cujas faculdades declinam, é uma insónia que se mede por décadas e não com agulhas de aço, é o peso de mares e de pirâmides, de antigas bibliotecas e dinastias, das auroras vistas por Adão, é não ignorar que estou condenado à minha carne, à minha detestada voz, ao meu nome, a uma rotina de lembranças, ao castelhano, que não sei manejar, à nostalgia do latim, que não sei, a querer fundir-me na morte e a não poder fundir-me na morte, a ser e a continuar a ser.



Jorge Luis Borges

Obras Completas
Editorial Teorema, 1998
Tradução de Fernando Pinto do Amaral

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