Se fôssemos cegos, surdos e desprovidos de sensibilidade, mas tendo a alma perfeitamente aberta, e o nosso espírito fosse para nós o que o nosso mundo actual é, estaríamos então com o mundo interior na mesma relação que com o actual mundo exterior e quem sabe se nos aperceberíamos de qualquer diferença – se pudéssemos comparar os dois estados. Quantas coisas não iríamos sentir, para as quais apenas nos faltaria o respectivo sentido externo, por exemplo a luz, o som, etc.? Iríamos apenas poder produzir transformações análogas aos pensamentos, e iríamos sentir uma ânsia de conseguir os tais sentidos a que agora chamamos sentidos externos. Quem sabe se, após múltiplos esforços, não conseguiríamos fazer nascer olhos, orelhas, etc., uma vez que o nosso corpo estaria então em nosso poder e constituiria parte do nosso mundo interior, tal como, presentemente, a nossa alma.



Novalis

Fragmentos de Novalis
Assírio & Alvim, 2000
Tradução de Rui Chafes

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