Os monólogos insurrectos - XV

Não te levantes do que escrevo. Às vezes basta um lugar aprendido no escuro como forma de enlouquecer até à exaustão. Um lugar incurável, muito morto, habituado a estar onde és. Um esmero maiúsculo, se assim o quisermos. Poucas vezes. Uma doença à procura de casa. Onde se fica em flor (ou vertigem), ou em atalho para ser escombro.

Julgo ser eu, só. O rosto recalcado ao mínimo revólver. Coleccionando balas alojadas nos lábios de onde cais em erosão genital. Fabulosamente falecida de memórias e de corpos; outrora a graciosa implosão de nomes.

Trouxe metade dos teus demónios. Uma dor muito forte, abastecida de vultos e distúrbios afectivos, de tal modo inseparáveis que por cada órfão cresce um fóssil para longe. Fizeram-te íntima de homens doentes. Nómada cardíaca. Recolhendo estranhos durante o sono e concedendo-lhes uma floresta de lares. Tão depressa envelhecendo para cônjuge para que ninguém te reconheça o fundo da diuturna deficiência dos anjos.

Ajoelha-te quando chegares ao fim. A tua boca é um covil de línguas nas embocaduras dos falos. Matriarca dos bálanos cheios de água, minimamente venosos, coando a idade dos aromas (e do desmembramento). Engole-me com o teu ânus permanente, vertiginoso por dentro (onde passei a última depressão). Um sítio onde sejamos a fundação de um desastre, de noite e de novo, pela força de um desfecho arável: o ofício de terminar pessoas em fluidos. Um armazém de gente viável e glandes e vulvas e rectos. Fezes. Criaturas anseriformes rasgando à escuta.

Entraste em defunto. Deus quis-te (f)ilha de um beijo negro, espectro por baixo, esquartejada pela fetal tessitura dos alísios. A lavoura dos ventos, como animalidade tácita, onde acabaríamos por tremer de escrita. Assim é o metabolismo dos casais. Um diagnóstico anódino, talvez, em socorro da pontuação que te veio acabar.

Li todos os livros onde poderia abandonar-te. Dupliquei de medo por tamanhos abismos e deixei-me comover. Masturbei-me à janela do teu retrato, onde carregas o esquife paradisíaco de uma criança improvisada.

Vim-me na tua consciência.



Duarte Temtem

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