Os sacos-cama estavam empapados. Perguntei se tinha chovido e Fredy respondeu que sim, que tinha chovido miúda e subtilmente, como em quase todos os dias 31 de Março em Atacama. Quando me pus de pé, vi que o deserto estava vermelho, coberto de pequenas flores cor de sangue.
- Ali as tens. As rosas do deserto, as rosas de Atacama. As plantas continuam ali, debaixo da terra salgada. Viram-nas os atacamenses, os incas, os conquistadores espanhóis, os soldados da guerra do Pacífico, os operários do salitre. Continuam lá e florescem uma vez por ano. Ao meio-dia já estarão calcinadas pelo sol - disse Fredy anotando dados no seu caderno.



Luis Sepúlveda
As Rosas de Atacama
Edições ASA, 2002

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