XVII

.......Percorro agora um país longínquo e sem pecado,
Agora acompanham-me seres imponderáveis
.......de cabelo irisado de auroras boreais
e um manso dourado na pele.
.......Por entre as ervas avanço com o joelho por proa,
e a minha respiração expulsa da face da terra
.......os últimos novelos do sono.
E as árvores marcham a meu lado, contra o vento.
........Vejo grandes e paradoxais mistérios:
A cripta de Helena é uma fonte.
.........O sinal da cruz um tridente com golfinhos.
O arame farpado sacrílego um portal branco.
.........Pelo qual passarei com glória.
As palavras que me traíram e a pancada que apanhei
..........são-me agora mirtos e palmas:
Cantam hossanas por aquele que vem!
...........
Na escassez vejo frutos voluptuosos
Oliveiras oblíquas com azul entre os dedos:
...........os anos de cólera detrás das grades.
E uma praia sem fim, húmida do encanto de belos olhos,
...........o fundo do mar de Marina.
Onde de alma pura hei-de caminhar.
...........As lágrimas que me traíram e as humilhações que sofri
são-me agora brisas e aves eternas:
...........Cantam hossanas por aquele que vem!
Percorro agora um país longínquo e sem pecado.



Odysséas Elytis
Louvada Seja (Áxion estí)
Assírio & Alvim, 2004
Tradução de Manuel Resende

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