um gajo fica com a manhã no café
e por mais que mexa
não a torna mais doce
o aroma remoinha a respiração
com a fibra amansada
pelo cansaço
abandona-se a chávena diária
nos olhos sem obra
até que as reticências enchem a página
olhar as mãos ao fim desta derrapagem
é como uma oração ignorante
ou uivo de animal
ter medo é ter mãos
se esses cinco pares de dedos
vociferam mais alto
que as gaivotas dos motivos
pedro outono
Quem será que escreve os meus textos?
Palimage, 2002
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