Os Malditos

1.
Cai o dia. Vão as velhas à fonte.
Vermelho a rir no escuro do castanheiro.
O pão traz, a escorrer, da loja um cheiro,
Na cerca os girassóis baixam a fronte.

Na taberna do rio o bulício não estanca.
Tilintam as moedas, a guitarra trina.
Há uma auréola a descer sobre a menina
Esperando à porta de vidro, doce e branca.

Oh, o brilho azul, que em vidraças desperta,
Envolto em espinhos, negro e enfeitiçado!
Um escrivão torto sorri meio desvairado
Para a água que o temporal agita.



Georg Trakl
Outono Transfigurado
Assírio & Alvim, 1992
Tradução de João Barrento

Sem comentários: