Porque foi dali, daquele mar,
daquela montanha
desordenadamente,
que a assombração chegou ao fim,
e que o pedreiro viu
descer por uma corda
em espiral
o corpo intacto da mulher
que antes esventrara
com uma tesoura.
Era o tempo de muito depois da morte,
dizia o pedreiro, onde até os monstros
sufocavam porque tudo fora
parar a um viveiro seco.
Porque era um tempo
de murmúrios e danação.
Em que as mulheres se
separavam dos corpos
e os homens se transformavam
por isso em grandes polvos,
sem olhos, sem escrita,
sem saberem sequer
como matar as aves.
Um tempo já depois
de uma catástrofe em que
a memória se perde no espaço.
Jaime Rocha
Os Que Vão Morrer
Relógio D´Água, 2000
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