Manhã de Embriaguez

Ó meu Bem! Ó meu Belo! Fanfarra atroz em que já não tropeço! Cavalete feérico! Hurrá pela obra inaudita e pelo corpo maravilhoso, pela primeira vez! Isto começou com risos de criança, em risos de criança há-de acabar. Este veneno vai ficar em todas as nossas veias, mesmo quando, regressada a fanfarra, formos devolvidos à antiga inharmonia. Ó nós agora tão digno destas torturas, cumpramos fielmente a jura sobre-humana feita ao nosso corpo à nossa almas gerados: esta promessa, esta demência! A elegância, a ciência, a violência! Prometeram-nos enterrar na sombra a árvore do bem e do mal, banir as honestidades tirânicas, afim de que pudéssemos nosso puríssimo amor. Isto começou com uma certa náusea e isto acaba - não podendo assenhorar-se já de tal eternidade - isto acaba por uma debandada de perfumes.
Risos de crianças, discreção de escravos, austeridade das virgens, horror destas caras e destes objectos, sagrados sejais pela recordação desta vigília. Isto começou com toda a grosseria, eis que isto acaba em anjos de fogo e neve.
Breve vigília de embriaguez, santa!, quanto mais não seja pela máscara que nos deste! Afirmamos-te, método! Não esquecemos que exaltaste outrora todas as nossas idades. Temos fé no veneno. Sabemos dar a nossa vida inteira todos os dias.
Eis o tempo dos ASSASSINOS.



Jean-Arthur Rimbaud

Iluminações, Uma Cerveja no Inferno
Assírio & Alvim, 2001
Tradução de Mário Cesariny

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