I
As casas vieram de noite
De manhã são casas
À noite estendem os braços para o alto
fumegam vão partir
Fecham os olhos
percorrem grandes distâncias
como nuvens ou navios
As casas fluem de noite
sob a maré dos rios
São altamente mais dóceis
que as crianças
Dentro do estuque se fecham
pensativas
Tentam falar bem claro
no silêncio
com sua voz de telhas inclinadas
II
Prometeu ser virgem toda a vida
Desceu persianas sobre os olhos
alimentou-se de aranhas
humidades
raios de sol oblíquos
Quando lhe tocam quereria fugir
se abriam uma porta
escondia o sexo
Ruiu num espasmo de verão
molhada por um sol masculino
V
Louca como era a da esquina
recebia gente a qualquer hora
Caía em pedaços e
vejam lá convidava as rameiras
os ratos os ninhos de cegonha
apitos de comboio bêbados pianos
como todas as vozes de animais selvagens
Luiza Neto Jorge
Poesia (1960-1989)
Assírio & Alvim, 2001
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