Passagem

a)

A necessária ironia
de caminhar
pela mais que urbana cidade
na distraída errância
dos dias,

pensando
em como somos inautênticos
e em como,
por uma espécie de fé,

procuramos
"a verdade numa alma
e num corpo".


b)

A vida encontra o seu caminho,
o mágico ressuscitar do dia,
as visões sem regresso.

Estar à porta de casa
sem pensar que a noite
nos cobre os corpos,

lê nos céus o rosto,
a passagem das horas,
o castigo de não ter amado.

Lê nos céus a surpreendente fuga,
a migração.
Na cidade-rio, no seu curso,

Caronte chora por nós.



Luís Quintais
A Imprecisa Melancolia
Editorial Teorema, 1995

1 comentário:

Hugo Milhanas Machado disse...

Verdadeiramente seminal.

E muito bom trabalho, o destes "lugares".