A simplicidade

O que sobretudo tem faltado à minha vida até agora é a simplicidade. Começo a mudar a pouco e a pouco.
Por exemplo, actualmente saio sempre de casa a minha cama e, quando uma mulher me apetece, agarro nela e deito-me com ela imediatamente.
Se tem as orelhas ou o nariz grande e feios, tiro-lhes juntamente com as roupas e meto-os debaixo da cama, para ela os poder recuperar à saída; só conservo o que me apetece.
Se a roupa interior está a precisar de ser mudada, mudo-a imediatamente. Será a minha prenda. No entanto, se vejo uma outra mulher mais apetecível a passar, peço desculpas à primeira e suprimo-a imediatamente.
As pessoas que me conhecem garantem que eu não sou capaz de fazer o que estou a dizer, que não tenho temperamento para isso. Eu também achava que não, mas isso era porque eu não fazia tudo como me apetecia.
Agora, tenho sempre belas tardes. (De manhã trabalho).



Henri Michaux
Antologia
Relógio d’Água, 1999
Tradução de Margarida Vale de Gato

Sem comentários: