Nunca se deixou fotografar. Quando te tocava, dirias que te revelava
o corpo, como se infundisse calor ou se pintasse a si mesmo no espa-
ço. Era esse o escândalo. Podia não existir, mas quando se aproxima-
va - nunca se deixou fotografar.

E havia um negócio de roupa: azul por vermelho. Era simples,
não envolvia cálculo. Vestiam-se e despiam-se e olhavam-se e subiam de-
pressa a torre de pedra porque era assim o seu desejo. Expunham-se
ao vento como velhas árvores de seda. Eram animais de temperatura,
animais de fome, real e urgente.

Nunca se deixou fotografar. E quando morrer, dirás que o viste. Dirás
apenas isso. Que o viste.



Vasco Gato
Omertã
Quasi Edições, 2007

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