Sempre com uma faca e já com os corvos pousados
nos ombros, no meio do areal, o pedreiro ouviu
os oráculos e, tal como prediziam, viu cinquenta
e nove cisnes a dançar dentro de um lago e entre
eles a mulher de cabelo dourado penteando-se
a um espelho, quase nua, entre rosas.
Que era a morte, dizia o homem da montanha.
Mas o pedreiro sabia que ela não podia ter saído
assim de um túmulo que ele protegera a vida
inteira, nem as rosas podiam ter aquela cor.
E o pedreiro sabia também que não fora aquele
homem que plantara nove quintais de milho
num anfiteatro nem fora ele que inventara
uma ilha com uma colmeia dentro.
Jaime Rocha
Os Que Vão Morrer
Relógio D´Água, 2000
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