As palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam;
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?



Eugénio de Andrade
Coração do Dia
Iniciativas Editoriais, 1958

1 comentário:

paula amaro disse...

Um poema maravilhoso como tantos outros do mesmo autor. As Palavras! Como ele as soube utilizar no momento certo, no lugar certo. Foram carícias ou bofetadas mas sempre oportunas, bem vindas. Bem hajam pela sua publicação.