Se o poema não serve para dar o nome às coisas
outro nome e ao seu silêncio outro silêncio,
se não serve para abrir o dia
em duas metades como dois dias resplandecentes
e para dizer o que cada um quer e precisa
ou o que a si mesmo nunca disse.
Se o poema não serve para que o amigo ou a amiga
entrem nele como numa ampla esplanada
e se sentem a conversar longamente com um copo de vinho na mão
sobre as raízes do tempo ou o sabor da coragem
ou como tarda a chegar o tempo frio.
Se o poema não serve para tirar o sono a um canalha
ou ajudar a dormir o inocente
se é inútil para o desejo e o assombro,
para a memória e para o esquecimento.
Se o poema não serve para tornar quem o lê
num fanático
que o poeta então se cale.
António Ramos Rosa
O Poeta na Rua
Quasi Edições
3 comentários:
Belíssimo blog. Passei um bom tempo da noite lendo os poemas do arquivo e sei que voltarei outras vezes.
este poema está brutal!
continuem o excelente trabalho.
Gostei muito desta tua escolha, é um poema lindíssimo.
e tão bem começa como termina, este poema
"Se o poema não serve para tornar quem o lê
num fanático
que o poeta então se cale."
:)
Beijo
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