O princípio da manhã é um inesperado gume de frio que
rasga a pele até à dor. Aguardo que abra o Café, de mãos
enterradas nos bolsos, os pés sapateando uma dança que só os
arrepios conhecem partitura.
Dentro já nasceu a luz. Contrasta, de tão quente. As
cadeiras estão voltadas cumprida que foi outra noite sobre o
tampo das mesas. Estou sozinho junto à entrada. A máquina
de café foi ligada, posso-o ver pelo botão de cor alaranjada que
pisca, intermitente. Hoje vou ser o primeiro. O vidro pinta o
nariz sempre que o encosto ao frio, mas a névoa embaciada que
se interpõe com o bafo obriga-me a recuar para poder espreitar
o salão.
Quem passasse agora aqui, diria que voltei a fumar.
João Luís Barreto Guimarães
Lugares Comuns
Mariposa Azual, 2000
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