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Ninguém sabe porque uma mulher
se mata de encontro a um comboio.
Nem porque se guardam as flores
numa gaveta. Só o espelho pensa
com suas raízes dóceis, cortando
as veias sempre que a chuva pára
e a secura toma conta das palavras.
Há um rosto que reflecte tudo isso,
uma fotografia encaixilhada num
museu. Mas é uma relíquia, um achado
intocável, uma espécie de anjo
que habita dentro do peito e se
desloca para dentro.



Jaime Rocha
Do Extermínio
Relógio d’Água, 2003

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