escrito sobre a porta

Tenho uma pele parda ou cor de tabaco vermelho,
tenho um chapéu de miolo de sabugueiro coberto de tecido
branco.
O meu orgulho é que a minha filha seja muito bela quando
comanda as mulheres negras,
a minha alegria, que ela descubra um braço muito branco
entre as suas galinhas negras;
e que ela não tenha qualquer vergonha da minha face enrugada
sobre a barba, quando volto sujo.

*

E antes de tudo dou-lhe o meu chicote, o meu cantil e o meu
chapéu.
Sorrindo ela recomensa-me da minha face suada; e leva ao
seu rosto as minhas mãos gordurosas de terem
experimentado a amêndoa de Kako, o grão de café.
Em seguida ela traz-me um lenço de cabeça, a minha túnica
de lã; água pura para lavar os meus dentes de homem silencioso.
e a água da minha tina está lá; e eu ouço a água da bacia no
depósito da água

*

Um homem é duro, sua filha é doce. Que ela espere sempre
o seu regresso sobre o último degrau da casa branca,
e dispensando o seu cavalo do aperto dos joelhos,
ele esquecerá a febre que do interior lhe estica toda a pele
do rosto.

*

Amo ainda os meus cães, o relinchar do meu cavalo favorito,
a ver ao fim da alameda o meu gato sair da casa em compa-
nhia da macaca...
tudo o que é suficiente para não invejar as velas dos veleiros
que, sobre o mar como um céu, avisto à algura do telhado.


Saint-John Perse
Elogios
Quasi Edições, 2002
Tradução de Jorge Melícias

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