Uma folha de erva

Pedes-me um poema.
Ofereço-te uma folha de erva.
Dizes que não chega.
Pedes-me um poema.

Eu digo que esta folha de erva basta.
Vestiu-se de orvalho.
É mais imediata
do que alguma imagem minha.

Dizes que não é um poema.
É uma simples folha de erva e a erva
não é suficientemente boa.
Ofereço-te uma folha de erva.

Estás indignada.
Dizes que é fácil oferecer uma folha de erva.
Que é absurdo.
Qualquer um pode oferecer uma folha de erva.

Pedes-me um poema.
E então escrevo uma tragédia acerca
de como uma folha de erva
se torna cada vez mais difícil de oferecer

e de como quanto mais envelheces
uma folha de erva
se torna mais difícil de aceitar.



Brian Patten
Qual é a minha ou a tua língua?
Cem poemas de amor de outras línguas
Assírio & Alvim
Organização de Jorge Sousa Braga

2 comentários:

Heduardo Kiesse disse...

e assim nascem os poemas que nos oferecem - vida!!

abraços de amizade!

bruno vilar disse...

Respondendo pela equipa, devolvo-lhe os abraços amigos.