natal

Há poemas que se parecem com animais famintos -
procuram vorazmente alimentar-se das metáforas mais puras
dos versos mais exactos, descarnando-lhes ritmicamente as sílabas -
como se as palavras realmente sangrassem ou importassem,
como se um poema fosse assim tão importante. E é.

Mas um poema não é tão importante como saciar a fome por dentro,
como preencher o vazio escancarado nos olhos de quem passa
e não diz a solidão, ou calar o grito que existe
no interior dos quartos - a dor espalhada nas paredes.
Há qualquer coisa que me desperta no natal: amor e ódio

é como se toda a tristeza do mundo se cobrisse de luzes
e eu fechasse os olhos para não ver.




susana almeida
18.12.2007

3 comentários:

bruno vilar disse...

Publicaste-o aqui. Gosto tanto.


Beijo

Liliana Gonçalves disse...

O teu primeiro poema aqui:)

(venham mais)

gosto do arranque do poema

"Há poemas que se parecem com animais famintos -"

percebi um pouco o teu "Natal"

que se funde, aqui debaixo desta luz final.

"é como se toda a tristeza do mundo se cobrisse de luzes
e eu fechasse os olhos para não ver."

beijo

L.N. disse...

"Mas um poema não é tão importante como saciar a fome por dentro"