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A cidade morreu. Atravessou um túnel e morreu.
Apenas ficou a memória das ruas colada nesse
espelho que habita no interior da sombra, com
pinças e desenhos dourados. Os barcos atravessam
glaciares, os aviões afundam-se na terra. Tudo se
passa num segundo dentro de relógios magnéticos,
numa terceira morte. O pássaro cai, o homem
levanta-se, mas é o espelho que anda como uma
larva, alimentando-se do sangue dos quartos.



Jaime Rocha
Do Extermínio
Relógio d’Água, 2003

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