Atravessas a noite − é a mais longa
noite da tua vida.
Atravessas o mundo, sobrevoas
o maior continente
− ilhas verdes e outros paraísos −,
as muitas horas pesam-te no corpo,
mas os ponteiros não se movem.
A escala será breve: uma cidade
onde o céu desagua noutro céu
absoluto **** negro.
Os passageiros saem − vais com eles,
autómato perdido na corrente
dos outros seres humanos, teus irmãos
siameses,
e é este o aeroporto de Bangkok:
cafés e restaurantes e free-shops
e de súbito aqui ou além
minúsculos cubículos,
stalags ou gulags de vidro transparente
onde algumas pessoas como tu
fumam e continuam a fumar.
Agora a dez mil metros de altitude
sobre a Ásia Central **** sobre a eterna
noite,
imaginas que o dia já nasceu
no aeroporto de Bangkok
e contemplas num morno pesadelo
aqueles pequenos cárceres de névoa,
o castigo cumprido em silêncio,
a cinza dos seus rostos.
Fernando Pinto do Amaral
A Luz da Madrugada
Publicações Dom Quixote, 2007
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