A minha verdade relativa é esta: não sei se é maduro o poeta em mim com quem converso ou se amadureceu a poesia que lhe peço. Posto isto, escrevo para dentro algum olhar. Sei que está vivo e respira. Peço a retina desse milagre, o mundo fora de mim que ele divisa. Oiço, dali, uma saudade que borbulha, as mãos que são dela e que marulham. Subo à traqueia um pouco do que de dentro deste ar é puro. O amor, por exemplo, que sinto, a vontade que é deitar-me sobre o chão do mundo, vestir-me de veludo e com a candura das estrelas. Assobio uma canção de entre os lábios, um perfume imóvel a visitar essa harmonia. Danço com as notas uma viagem melódica, uma letra vestida na sua nudez, rumo. Para onde não sei. Mas rumo, como se evoluísse para um horizonte líquido, para um acontecimento feliz. Oiço as vozes das palavras chegarem-me com delicadeza, alvas, profundas, flutuantes e azuis.
Eduardo White
O Manual das Mãos
Campo das Letras
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