O poema em que te busco é a minha rede,
Bem mais de borboletas que de peixes,
E é o copo em que te bebo: morro à sede
Mas ainda és margarida e não-me-deixes
E muito mais, no enumerar das coisas:
Cordão de laço e corda de violino,
Saliva de verdade nalgum beijo,
E poisas
Como ave de aço em pão se não te vejo.
Mas onde mais real do céu me avisas
É nas tuas camisas,
Calças de cor no catre bem dobradas.
E és os meus pensamentos, se te ausentas,
Meu ciúme escuro como vinho em toalha;
E o branco circular das horas lentas
Que um perfurante amor lembrado espalha.
Põe o penso no velo intercrural
Com um atilho vertical:
Rosa coberta esquiva
Quer a mão do desejo, quer
O conhecido cravo da agressão
Que estendo às tuas formas de mulher,
Com esta soma e verbal precaução
De um fónico doutor de Mompilher.
vitorino nemésio
Caderno de Caligraphia e outros Poemas a Marga
3 comentários:
Fabuloso de enleante mestria metafórica.
Gostei muito.
se me perguntassem jamais diria que tu gostarias deste poema. surpreendido :)
Aha, mas gosto. Gosto de jogos de palavras, de quem consegue explorar a língua.
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