O dia claro (ou mário cesariny vai a banhos)

Como é vária a vida de um homem
celebrando o Agosto sem julgar celebrar coisa alguma.
O escândalo é coisa para outros, não para ti,
meu caro Mário, e eu que me subtraio à tua alegria
de jovem sem rodeios ou obtusa gravidade,
e eu distante.

Não fosse este escrúpulo idiota
assoreando mágoas, assolando-se de dívidas
para com os civilizados da literatura,
fugir-me-ia para a homenagem.

O mar abre-se ao azul como a flor heliotrópica ao sol.
Faz um secreto bem procurar o fio
que horizonte e rebentação entretecem,
visitar hipocampos enlouquecidos
e navios alados,
visões e videntes no dia claro.

Há boas razões para estarmos aqui.
Eu neste arrazoado poético,
e tu no teu bom senso de banhista feliz.
Mas nenhuma forte o bastante para continuarmos aqui.
Do mar, é entrar e sair,
e à margem do Agosto e dos fins
permanecer.



Luís Quintais
Duelo
Edições Cotovia, 2004

1 comentário:

mar disse...

este poema é grande, não só pelo conteúdo mas pela forma como está escrito. há uma comunhão de bens, perfeito até no modo como nos deixamos embriagar por um agosto mesmo estando um frio que dói.

boa escolha josé.
abraço*