não tenho estado nada bem. um retrocesso

não tenho estado nada bem. um retrocesso,
uma maneira de vencer, de ter as mãos sem penas,
nenhuma imagem invulgar, apenas o bater
das pálpebras, elas agarram-se
viscosas ao sentido,
e nenhum ar oscila: outras vezes

é o silêncio das ruas, a água
sobre os seixos, líquida,
o silêncio entre as bocas
e as roucas paredes; receio,
sem pavor, o simples
sofrimento.

tenho errado o que faço, a garatuja, os passos;
lembrado em certas horas, uns lugares
depois outros,
o sopro de algumas casas, mas também
os poços da lepra,
as estradas cortadas, as naus
inexistentes.



António Franco Alexandre
Poemas
Assírio & Alvim, 1996

2 comentários:

QC disse...

Pequena face. 1984
" Começa perto de casa o campo azul, a nuvem passageira ..."

Mapas De Espelho ( Imagem Suzzan Blac) disse...

Há poetas com palavras mais densas do que outros. Como se existissem numa mesma palavra diferentes graus de qualidade ... do rasto gráfico à tradução da realidade, à criação de mais vida dentro da vida da palavra. O AFA é seguramente um Poeta Criador de mais vida, um acrescendador de vida à palavra.