o teu rosto, o desenho pouco a pouco devorou-o:
o vento que interrompias com o riso
é agora um sopro interminável
onde as roseiras se tornam transparentes.
Não te percas no jardim como um deus esquecido
nos lábios dos mortos, não desfaças a estação
do rigor que parece eternidade: ainda a manhã
não transformou a geada num resíduo de luz,
na casa vacilante que obriga os meus passos.
Quando te chamo esconde-se no teu nome
a minha ausência.



Rui Nunes
Ofício de vésperas
Relógio d'água, 2007

1 comentário:

mar disse...

não podia ter sido melhor a escolha. rui nunes é delicioso, pelo incrível modo como salta de espaços e de tempos, se em prosa consegue transportar-nos para realidades que embora aqui ao lado nos passam despercebidas, em poesia faz-nos voar, talvez porque arranja sempre um jeito de nos tornar vulneráveis, dóceis e os sentimentos ganham vida nos nossos gestos sempre mansos. rui nunes dá vida à vida que está morta ou a morrer e isso torna-o um dos grandes escritores portugueses comtemporâneos.

um beijo
deste
mar.