Fuga e pó

o sol aquecera o caminho, as silvas estavam cheias de pó, que é isto?: perguntou a velha, e passou as mãos pelas folhas engelhadas, pelos cachos de amoras, secos, um restolhar veio do fundo como se as silvas se mexessem, junto aos seus pés o som foi tão rápido que apenas deixou um tracejado de poeira, um bicho a desaparecer é o vazio que te puxa,
a mulher corre para o talude e encosta o ouvido a uma pedra:
entra-lhe na cabeça um calor de minério, e ela sorri, tão em paz, esquecida do rasto de som que se perdera,




Rui Nunes

Ouve-se sempre a distância numa voz
Relógio d'Água, 2007

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