campos de beira-mar

melharucos esses pássaros que se alimentam de abelhas
verdelhões corvos pombos entravam pela janela
mal falavas neles pousavam no sexo nas mãos
nos lábios quentes de esperma
e sorrias recomeçando outra ladainha

salmonetes golfinhos que se avistam no horizonte
dos sonhos uma eira onde me refugiava no inverno
dormia escondido na palha seca batia punhetas
porque o cheiro a bosta e a feno me excitava

zunia o silêncio dos campos da beira-mar
fustigados pela chuva de março íamos por veredas
enlameando nossas mágoas ainda adolescentes

a manhã chegava encostando-se às vidraças
fazia-se tarde
tinhas de voltar ao trabalho enquanto eu ficaria
estendido no chão
sob o peso dos nomes dos peixes e dos pássaros

o frémito de asas e barbatanas suspirado sobre a pele
no arrepio de quem não consegue viver sozinho
e nu
pensei que para sempre te perdia

Al Berto
Degredo no Sul
Assírio & Alvim, 2007

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