Quarta Elegia (um excerto)

Ó árvores da vida, para quando o vosso Inverno?
Nós não estamos em conformidade. Não como aves migradoras
somos unânimes. Ultrapassados e tardios,
de súbito nos enredamos em ventos
e caímos num charco indiferente.
Florir e murchar são-nos ambos conhecidos.
Em algum lugar andam leões ainda, desconhecendo,
enquanto magníficos, toda a impotência.

Nós, porém, quando tendemos inteiramente para Uma coisa
logo sentimos o excesso de outra. A inimizade
é-nos próxima. Os próprios amantes que um ao outro
se prometiam imensidão, coutada e pátria,
não deparam constantemente com limites?
Para o esboço de um momento
prepara-se, então, um fundo contraditório, esforçadamente,
para que o vejamos; pois é-se muito preciso
connosco. Desconhecemos o contorno
do sentir: apenas sabemos o que do exterior lhe dá a forma.



Rainer Maria Rilke
As Elegias de Duíno
Assírio & Alvim, 2002
Tradução de Maria Teresa Dias Furtado

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