O lixo dourado dos anos
foi-me habituando a viver por entre sonhos;
nenhum sorriso se me desvanece na memória;
os olhos que uma vez me olharam
estimulantes ou talvez sem me verem
continuam fixos em mim para sempre;
uma distraída palavra amável
acende a fogueira para o Inverno todo;
um qualquer amor incipiente
que mal chega a ser amor
transforma-se numa árvore imensa
cujos ramos
me protegem da inclemência do sol.
Pedra a pedra construí uma casa
sem portas nem janelas,
um jardim
do tamanho do mundo,
uma cela
onde me encerro com todas as coisas
que amo.
Algumas noites saio,
coração bem protegido,
buscando o botim: um pretexto,
um mínimo pretexto adolescente,
para continuar sonhando.
E esta manhã
ao despertar
atónito compreendo
que continuas sorrindo nos meus braços.
Não és um sonho, tu, estou perdido.
José Luis Garcia Martín
Principios y finales
Comares, 1997
Tradução de A.M.
Sem comentários:
Enviar um comentário