Preso a mim por um fio

Escrevi a Ljunberg no dia 2 de Dezembro de 1770. Assim, não existe um único ser com o qual poderia manter relações íntimas, nem sequer um cão que pudesse tratar por tu. Felizmente, mesmo nestas condições, mantive uma boa consciência. Senão, já teria, o mais breve possível, ido procurar o repouso que Hamlet temia por causa dos sonhos que aí pressentia. Para mim, os sonhos não me retêm, diga Hamlet o que disser; não considero como uma pequena consolação, quanto à aflitiva condição humana, que uma medida de pólvora custe apenas quatro pennings. É, na verdade, medonho viver-se quando se não quer, mas seria ainda muito mais terrível ser imortal quando se quer morrer. Assim, todo este pavoroso fardo está preso a mim por um fio que não consigo cortar com um canivete de tostão.



Lichtenberg
Aforismos
Livro B, Editorial Estampa, 2010
Tradução de João da Fonseca Amaral

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