Entretecidos na roda da noite
os vagabundos dormem
lá em baixo nas galerias trovejantes;
mas onde nós estamos é a luz.
Temos os braços carregados de flores,
mimosas de muitos anos;
ouros caem de ponte em ponte
ofegantes no rio.
Fria é a luz,
mais fria ainda é a pedra frente ao portão,
e as taças das fontes
já estão meio vazias.
Que será quando, perturbados
de saudade até ao esvoaçar dos cabelos,
aqui ficarmos e perguntarmos: Que será
quando passarmos a prova de beleza?
No alto do carro da luz,
vigilantes também, estamos perdidos
nas alamedas dos génios, lá em cima,
mas onde nós não estamos é a noite.
Ingeborg Bachmann
O Tempo Aprazado
Assírio & Alvim, 1993
Selecção, tradução e introdução de Judite Berkemeier e João Barrento
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