Passava-se por baixo de uma porta
que parecia ter sido retirada
da boca submersa de um vulcão.
Ao fundo dois suecos procuravam
a chave no granito extraviada.
Suspensa da janela
uma voz salitrosa fabricou um enigma-
Viram a cabeça tentando decifrar
a esfíngica toada,
mas a voz contida pela pedra
sentada sobre as patas leoninas
negou-se à tradução.
Descia-se pela rampa
e no passeio a buganvília estava
sobre o muro contra o céu.
Deixara de assombrar-me
ficara ao abandono
em volta do meu quarto
no sítio onde a infância
sozinha apodreceu.
Mas agora, acossada no ringue da cidade,
assentara um directo na face azul do astro.
Ao ver-se acometido
o cobalto da cara purpureou num ápice.
No malar azulado a buganvília pôs,
precipitadamente,
um adesivo roxo.
Fátima Maldonado
Os presságios
Editorial Presença, 1983
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