César

Eis tudo o que deixaram os punhais.
Eis esta pobre coisa, um morto austero
que se chamava César. Há crateras
abertas na sua carne plos metais.
Eis esta atroz, agora interrompida
máquina usada ontem para a glória,
para escrever e executar a história
e para a plena fruição da vida.
Eis aqui também o outro, esse prudente
imperador que os seus louros recusou,
que baixéis e batalhas comandou
e foi inveja e brio de tanta gente.
Eis aqui também o outro, esse vindouro
cuja sombra será o mundo todo.



Jorge Luis Borges
in Atlas
Obras Completas, vol. III
Editorial Teorema, 1998
Tradução de Fernando Pinto do Amaral

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