Ave Maria

Mães da América
_____________deixem os vossos filhos ir ao cinema!
tirem-nos de casa sem eles saberem o que planeais
é certo que o ar livre é bom para o corpo
______________________________mas quanto à alma
que cresce na escuridão, adornada por imagens prateadas
e quando envelhecerdes como tendes de envelhecer
______________________________não vos hão-de odiar
nem criticar nem hão-de saber
_____________________estarão nalgum país encantador
que viram pela primeira vez numa tarde de Sábado ou de gazeta

talvez até vos agradeçam
_________________pela primeira experiência sexual
que só custou um quarto de dólar
_______________________e não perturbou a paz do lar
saberão de onde vêm os rebuçados
_______________________e os sacos de pipocas gratuitos
tão gratuitos como sair antes de o filme acabar
com um estranho agradável cujo apartamento é no
________________________Céu na Av. Terra
perto da Ponte Williamsburg
____________________ó mães tereis feito tão felizes
os putos porque se ninguém os apanhar no cinema
não aprenderão a diferença
___________________e se isso acontecer será puro gozo
e de qualquer forma ter-se-ão divertido a valer
em vez de vagabundearem no pátio
______________________ou no quarto deles
__________________________________odiando-vos
prematuramente pois que ainda não fizestes nada horrivelmente maldoso
excepto mantê-los afastados das alegrias mais sombrias
__________________________________o que é imperdoável
portanto não me culpem se não seguirem este conselho
__________________________________e a família se desunir
e os vossos filhos ficarem velhos e cegos frente à televisão
________________________________________vendo
filmes que não os deixastes ver quando eram novos


Frank O´Hara
vinte e cinco poemas à hora do almoço
Assírio & Alvim, 1995
Tradução de José Alberto Oliveira

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