um moço, em Olinda, amava a palavra «ter»;
«eu acho bonito, ter». Como não tinha nada,
era livre de dar às palavras;

nalgumas não-bocas a palavra «ser»
dá vontade de morrer, já disseram.
Só essa

é a força formal das palavras.
esta não é a estória de um encontro.
foi a laboriosa tarde, no ruído

de passos e gritos, e o som
de exactos motores. através dos dedos escorre
a relva, como a ignorância de um sonho;

o teu corpo deitado tem
um sabor raro a coisas certas
vê: a terra arada e cheia de

guerra, uma coisa eu odeio mesmo
é a guerra: falou:
escrever deus ensina mas a voz

homem só inventou.


António Franco Alexandre
Poemas
Assírio & Alvim, 1996

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