estarei cego. É a minha triste, triste vida que continua.
_Os que me puseram no mundo hão-de pagar-mas, dizia
eu comigo antigamente. Até hoje ainda não pagaram. Po-
rém, eu agora tenho de apartar-me dos meus dois olhos. A
sua perda definitiva há-de livrar-me de atrozes sofrimentos,
é tudo o que se pode dizer. Uma manhã terei as pálpebras
cheias de pus. Depois é só o tempo de fazer inutilmente al-
gumas experiências com nitrato de prata, e acaba-se com
eles. Há nove anos, a minha mãe disse-me: «Preferia que
não tivesses nascido».
Henri Michaux
AntologiaRelógio d’Água, 1999
Tradução de Margarida Vale de Gato
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