DESAPARECERAM AGORA os círculos de ansiedade
que percorriam o lago do coração
e o estremecer vasto da matéria
que empalidece e morre.
Hoje uma vontade de ferro varre os ares,
arranca os arbustos, maltrata as palmeiras
e no comprimido ar escava
grandes sulcos com cristas de baba.
Todas as formas se abalam no tumulto
dos elementos; é um solitário uivo, um bramido
de existências rasgadas: tudo destrói
a hora que passa: viajam pela cúpula do céu
não se sabe se folhas ou aves - que se apagam.
E tu que toda te agitas entre o baque
dos ventos desarvorados
e apertas contra ti braços cheios
de flores que ainda não nasceram;
como sentes hostis
os espíritos que convulsa terra
sobrevoam em enxames,
a minha vida frágil, e como amas
agora as tuas raízes.
Eugenio Montale
Poemas
Assírio & Alvim, 2004
Tradução, prefácio e notas de José Manuel de Vasconcelos
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