É preciso ser cego,
ou ter os olhos cheios de vidro em pó,
cal viva,
areia fervente,
para não ver a luz que ressalta dos nossos actos,
que nos ilumina por dentro a língua,
nossa diária palavra.
É preciso querer morrer sem rasto de glória e alegria,
sem participar nos hinos futuros,
sem lembrança dos homens que julgarem
o passado sombrio da terra.
É preciso querer já em vida ser passado,
obstáculo sangrento,
coisa morta,
seco olvido.
Rafael Alberti
De un momento a otro
(1932-38)
Tradução A.M.
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