Vem uma mudança no tempo do coração
secar a sua seiva, e um brilho que nos fere
vibra no interior glacial do túmulo.
Transforma-se na cidade das veias
a noite em dia, e movem-se ali os vermes
sob o reflexo solar do próprio sangue.
Vem uma mudança ocultar nos olhos
os ossos da cegueira, e então o ventre
mergulha na morte como o aparecimento da vida.
A escuridão no tempo dos olhos
encontra-se com a luz; a profundidade do mar
rompe sobre uma terra sem arestas.
A semente, que gera dos flancos um bosque
vem dividir o seu fruto, e cada metade
derrama-se lentamente no vento adormecido.
O tempo ao percorrer a nossa carne e os ossos
fica húmido e seco; o que desperta e o que morre
junto dos olhos são como dois espíritos.
Vem uma mudança no tempo do mundo
transformar um espírito no outro, e cada criança
na sua mãe amolda-se sob uma dupla sombra.
Assim é arrastada a lua em direcção ao sol,
da pele são removidas as andrajosas vestes,
e o coração abandona-se à morte.
Dylan Thomas
A mão ao assinar este papel
Assírio & Alvim, 1998
Tradução e prefácio de Fernando Guimarães
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