Bela infância

A boca de uma rapariga que passara muito tempo no canavial
estava tão roída.
Quando lhe abriram o peito, o esófago estava todo esburacado
Finalmente, num caramanchão sob o diafragma
encontrou-se um ninho de ratinhos.
Um dos irmãozinhos estava morto.
Os outros tinham vivido do fígado e dos rins,
bebido o sangue frio e passado
aqui uma bela infância.
Mas depressa também tiveram uma bela morte:
Deitaram-nos todos à água.
Ah, como os pequenos focinhos chiavam!



Gottfried Benn
50 poemas
Relógio D'Água, 1998
Tradução de Vasco Graça Moura

Sem comentários: