A uma sombra

Se voltaste à cidade, pálida Sombra,
Seja para olhar o teu monumento
(Será que pagaram ao construtor?)
Ou com pensamentos mais felizes ao fim do dia
Para beber a aragem salgada que vem do mar
Quando em vez de homens emigram gaivotas cinzentas,
E as casas desoladas adquirem majestade:
Deixa que isso te alegre e parte outra vez,
Pois eles continuam com os mesmos ardis.
                                                                  Um homem
Da tua estirpe, apaixonado e servil, que nas suas
Mãos cheias trouxera (se eles ao menos soubessem)
E entregara aos filhos dos seus filhos pensamentos mais nobres,
Mais doces emoções, trabalhando nas suas veias
Como delicado sangue, foi do lugar desterrado,
Sob os insultos infligidos ao seu penar,
Sob a infâmia pela sua generosidade;
O teu inimigo, velha boca vil, soltou a
sua matilha.
                   Parte, desassossegado viajante,
E põe a manta de Glasnevin
À volta da tua cabeça até o pó tapar os teus ouvidos,
A hora de provares essa aragem salgada
E escutares às esquinas ainda não chegou:
Dor que baste tiveste antes de morrer -
Parte! Parte! No túmulo estarás mais seguro.



W. B. Yeats
Uma antologia
Assírio & Alvim, 1996
Tradução de José Agostinho Baptista

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