Um homem levanta a terra nas feiras.
(O suor, gota a gota, formou um lago em que, veladores do passado, se miram os choupos avarentos.)
As mulheres animam os baloiços. (O céu é só um roçagar de saias ao vento, perturbantes feixes de carne.)
O coração é um arco no limiar da nossa era, uma concha eloquente (para si mesma) entre os dedos da vidente.
Os altifalantes disputam entre si um universo insólito de música e de gritos onde a voz humana confessa um humilhante fracasso.
Espectacular luta de galos da violação e do vazio.
Uma luz reflectida conta as pérolas amarelas do seu colar.
A rua é o fiozinho de sangue. Mas quem o deterá no seu desejo obstinado de saciar os desertos?
Edmond Jabès
A obscura palavra do deserto
Cotovia, 1991
Tradução de Pedro Tamen
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