caminho sobre a música
com o cuidado redondo de não me molhar
só
porque abracei a sinfonia dos meus amigos
vozes
vozes depauperando o meu presente passo
caminho pelos pingos do piano
de mãos nos bolsos
e
envergo um universo cheio de musgo húmido
onde os iões se deitam a zunir
quando será
o meu segundo nascimento?
os átomos fazem-me de propósito para levar palavras hialinas
certamente proibido de as habitar
também levo acordes nos bolsos
levo as mãos mais pequeninas da mais esdrúxula
mulher
recebo o cuidado terno de perder as linhas
mesmo que o cabelo desalinhado confunda os apontamentos
com que mexo a vida
numa vaga paisagem apresentada de teclas
tão esconsa quanto um meteoro
Pedro Outono
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