Secámos à mãe
seu leite de mãe
mas não desatámos
do cordão os nós
Infuso no corpo
algo se rebela
são as luas dela
que não brilham em nós
Nosso pai amámos
num amor sem termos
com dentes de leite
com um fio de voz
e se ele nos não queria
no quarto o degredo
era não sabermos
como nos traía
Quando os apanhámos
nos degraus do trono
a lutar de amor
depois mudos, quedos
a morte aflorou-nos
mas não enfiámos
na ficha de elec-
tricidade os dedos.
Fugiu-nos a mão
a forçar o sôfrego
o fluente túnel
onde ainda é cedo.
Pegamos num livro
vamos aprender
na ponta da língua
os novos dizeres,
o primeiro sangue
é que mete medo.
Luiza Neto Jorge
A Lume
Assírio & Alvim, 1989
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